RECUPERAÇÃO JUDICIAL


2014-10-10

 

A Mannes, fabricante de colchões com sede em Guaramirim (SC), aprovou em assembleia de credores o plano de recuperação judicial que prevê até 138 meses para o pagamento de dívidas e a venda de uma unidade produtiva em Erechim (RS). Os débitos inscritos no processo somam R$ 80 milhões. A aprovação permite "arrumar a casa" e manter as operações sem queda da receita bruta, que deve repetir neste ano os R$ 250 milhões de 2013, diz o advogado da empresa, Thomas Müller.

Segundo ele, a recuperação judicial solicitada em dezembro do ano passado e deferida pela Justiça em janeiro foi necessária devido aos custos financeiros decorrentes do agressivo programa de expansão dos últimos cinco anos, que colocou a empresa entre as maiores do segmento no país. Neste período a Mannes aportou R$ 50 milhões para ampliar a matriz e inaugurar filiais em Erechim e Sorocaba (SP), bancados principalmente por linhas de capital de giro, com taxas mais elevadas.

Como resultado da expansão, o faturamento saltou de R$ 60 milhões para R$ 250 milhões por ano, mas em meados de 2012 a dívida bruta chegou a R$ 140 milhões e consumia R$ 3 milhões por mês entre juros e amortizações. Com isto, a empresa recorreu a descontos de duplicatas e adiantamento de recebíveis com fundos especializados (FIDCs). Em outubro de 2013, 100% das receitas e até vendas ainda não faturadas estavam comprometidas com esses mecanismos.

A Mannes tem ainda pouco menos de R$ 2 milhões em passivos tributários fora da recuperação judicial, mas a maior parte já foi renegociada por meio do "Refis da Copa", com pagamentos de R$ 10 mil por mês. O restante são débitos de ICMS com o governo catarinense, também em negociação.

Conforme Müller, embora o plano de recuperação não estabeleça deságio, garante uma redução de 50% nas dívidas quando trazidas a valor presente devido aos prazos e índices de correção. Os débitos com garantia real com o Banco do Brasil e Banrisul serão pagos em 120 meses, após 18 de carência, e corrigidos pela TR mais 0,5% ao mês. A dívida com o Badesc (banco de fomento do governo catarinense) será liquidada com a venda ou dação em pagamento de imóveis não operacionais em Guaramirim.

Os débitos trabalhistas serão pagos em até 12 meses, corrigidos pela TJLP, com teto de 30 dias após a aprovação do plano, em 1º de outubro, para as parcelas de até cinco salários mínimos por funcionário. Os quirografários até R$ 500 mil foram alongados em 36 meses após 24 de carência, e os superiores a este valor, em 120 meses e 18 de carência, com correção pela TR mais 4% ao ano. Os fornecedores, prestadores de serviços e financiadores que mantiverem o crédito para a Mannes no período de recuperação terão os pagamentos acelerados.

Segundo Müller, após o pedido de recuperação a Mannes obteve um novo empréstimo de capital de giro de R$ 6,5 milhões, que lhe deu melhores condições de negociar insumos e matérias-primas. Também reduziu custos com a diminuição do número de gerências e diretorias sem cortar o quadro geral de 1,2 mil funcionários, reajustou preços e aumentou as vendas.

O plano prevê ainda a venda de imóveis não operacionais, equipamentos e da carteira de clientes da fábrica de espumas automotivas em Erechim (que funciona em prédio alugado), mas essas operações são facultativas e se não forem concretizadas não haverá descumprimento do programa de recuperação. Conforme o advogado, a unidade industrial na cidade gaúcha vinha apresentando baixo resultado e sua produção poderá ser transferida para Guaramirim para reduzir custos operacionais.


 

Fonte: Valor Econômico S.A.

Voltar