Copa do Mundo, crédito restrito, inflação e confiança do consumidor em baixa. Tudo isso já estava na conta, mas o desempenho do varejo em julho, divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) superou negativamente todas as expectativas. À espera de uma retomada das vendas no segmento de hiper e supermercados, o de maior peso no setor, a média das estimativas coletadas pelo Valor Data apontava aumento de 0,7%. Mas o varejo restrito caiu 1,1%, já descontados efeitos sazonais, na comparação com junho - resultado nunca registrado no mês desde que a pesquisa começou a ser feita, em 2000, e o pior da série desde outubro de 2008, quando a variação também foi negativa em 1,1%.
Além de reduzir as compras no supermercado, o brasileiro também freou o consumo de bens duráveis, como móveis e eletrodomésticos, e semiduráveis. O varejo ampliado teve alta de 0,8% - abaixo da média esperada pelos analistas, de 1,2% - e o aparente bom resultado nas vendas de veículos, alta de 4,3%, não recupera a queda anterior, de 7%.
A pior queda do mês veio do grupo de móveis e eletrodomésticos, que retraiu 4,1%. O que mais puxou o desempenho ruim, no entanto, foi o grupo que inclui mercados e supermercados, que tem o maior peso no varejo como um todo: a retração no mês foi de 1,3%.
Os dados ruins provocaram uma onda de revisões. A Confederação Nacional do Comércio (CNC), que previa crescimento de 4% para o varejo neste ano, revisou para 3,7%. Na LCA a projeção caiu de 3% para 2,7% e, na Tendências, ainda é de 3,4%, mas deve ser cortada em breve.
No geral, o varejo deixou mais feio o retrato da economia brasileira no início do terceiro trimestre. Os dados parecem indicar que a inflação, a restrição de crédito e os menores ganhos salariais estão pesando mais que o esperado no humor do consumidor. Os temores em relação à perda do emprego podem também ser maiores que o imaginado até aqui - pesquisa da FGV mostrou que a percepção do brasileiro a respeito do mercado de trabalho piorou em todas as classes de renda.
Outro fenômeno começa a acontecer. Desde o ano passado as vendas perdem força e crescem a taxas cada vez menores - em alguns meses, chegaram inclusive a ter quedas. Ainda assim, a receita continuava crescendo, resultado de preços mais altos. Agora, o aumento de preços não parece mais ser recurso suficiente para que o empresário recomponha as margens.
Fonte: Valor Econômico
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