BANCOS


2014-08-07

Os juros retornaram ao nível de antes da crise no mês de março. O juro médio no mês foi o mais baixo desde junho de 2008, quando a taxa era de 38% anual. A média da taxa de juros cobradas no crédito livre no mês passado recuou para 39,2% ao ano, queda de 2,1 pontos percentuais na comparação com a taxa de 41,3% de fevereiro. Os números consolidados de sistema de crédito foram divulgados ontem pelo chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes.

Caíram também em março os spreads - que ainda mantém níveis elevados e em patamares do período pós-crise - e as taxas de captação, mas em contrapartida houve aumento da inadimplência no segmento de pessoas jurídicas (PJ). Na carteira de crédito das empresas, parcela de 2,6% dos pagamentos estava com atraso de mais de 90 dias no mês passado, frente a 2,3% em fevereiro.

"A inadimplência reflete todo o movimento do final do ano", disse Lopes, em referência ao período de desaquecimento econômico, elevação de juros e spreads e enxugamento da oferta de crédito. "A inadimplência ainda está em um patamar baixo para pessoas jurídicas, mas com algum movimento de elevação. Na pessoa física, se estabilizou", disse o executivo. O pico da inadimplência no segmento PJ ocorreu em setembro de 2000, quando atingiu 6% da carteira. Para o BC, o aumento da inadimplência representa uma situação de acomodação no período pós-crise.

O aumento da inadimplência não impediu a queda dos juros. A taxa média cobrada no segmento PJ foi de 28,9% ao ano em março, frente a 30,9% ao ano em fevereiro. Foi a menor taxa desde setembro do ano passado, quando o juro no segmento PJ foi de 28,3%. No segmento de pessoas físicas, a taxa média foi de 50,1% ao ano em março, queda de 2,5 pontos percentuais frente o juro de 52,6% de fevereiro. No crédito às famílias, a taxa de março foi a mais baixa desde junho de 2008, quando era cobrado juro de 49,1% ao ano.

No resultado de abril, considerando dados até o dia 8, o estoque do crédito referencial cresceu mais 1,4%, com taxas de juros apresentando alta de 0,1 ponto percentual no segmento de pessoas físicas e queda de 0,1 ponto para as empresas, revelou Lopes.

Quase todas as linhas de crédito ficaram mais baratas em março, com duas exceções. No segmento de pessoa física, o juro do cheque especial saltou para 169,1% ao ano em março, frente 166,7%, em fevereiro. No segmento de pessoas jurídicas, a taxa da conta garantida - um "cheque especial" de empresas - subiu de 77,1% para 79,6% ao ano no período. Segundo Lopes, essas taxas ficaram mais caras como reflexo do aumento da inadimplência.

O spread médio de março atingiu 28,5 pontos, frente os 29,7 pontos de fevereiro. O spread representa a diferença entre o que os bancos pagam pelo dinheiro no momento da captação e quanto cobram ao emprestar.

Essa diferença foi de 18 pontos percentuais no mês passado, contra 19 pontos em fevereiro. No segmento de pessoas físicas, o spread médio foi de 39,7 pontos, frente a 41,4 em fevereiro. A queda do spread foi influenciada por reduções tanto nas taxas de captação como nas de aplicação. No mês passado, o custo de captação caiu 0,9 ponto percentual e a taxa de aplicação caiu 2,1 pontos, enquanto o spread geral caiu 1,2 pontos.

Com juros mais baixos, o ritmo de concessão de crédito foi retomado, com liberação de um total de R$ 155,7 bilhões no mês, o que representa crescimento de 26,1% na comparação com fevereiro (que teve menos dias úteis). A média diária de concessões também aumentou, atingindo R$ 7,079 bilhões no mês passado, alta de 3,2% sobre a média de R$ 6,860 bilhões de fevereiro.

Mesmo havendo retomada do ritmo de concessões, o BC trabalha com a hipótese de crescimento da carteira de crédito em 14% este ano, distante do que ocorreu no ano passado, quando a expansão foi de 25%. "O importante é que o crédito continua crescendo, mesmo que com taxas mais moderadas", disse Lopes. O saldo de operações de crédito do sistema financeiro, incluindo recursos livres e direcionados, somava R$ 1,241 trilhão, no final de março, alta de 1% sobre fevereiro. O valor representava 42,5% do Produto Interno Bruto (PIB), o mais elevado índice desde o início da série histórica, em julho de 1999.

As instituições financeiras públicas têm participação decisiva na expansão da oferta de crédito. De setembro a março, os bancos federais expandiram suas carteiras em 18,3%, enquanto os bancos privados estrangeiros cresceram 3,5% e os bancos privados nacionais registraram expansão de 1,5%.

 

 

 

Fonte: Gazeta Mercantil por Ayr Aliski

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